domingo, 26 de janeiro de 2020

Mirador del Aconcagua e Cristo Redentor de los Andes com carro alugado a partir de Santiago

TL;DR
  • Cristo Redentor de los Andes e Mirador del Aconcagua (Parque Provincial Aconcagua) ficam em território neutro da Argentina e não exige visto ou permissão de entrada do carro (permiso) para visitação;
  • Ir com carro alugado sem comunicar a locadora não impede a sua visitação, mas não é tão recomendado. Autorização para saída de 1 a 15 dias custa cerca de R$ 540,00 (Jan/2020);
  • A visita ao Cristo Redentor e ao Mirador é gratuita, mas se quiser visitar o parque e/ou comprar alguma coisa, leve Pesos Argentinos;
  • Lugares são muito bonitos e próximos a 2,5 horas de Santiago, valendo a pena o passeio.


Semana passada fiz a minha primeira visita ao Chile, ficando hospedado em Santiago de 17 a 22 de Janeiro. Apesar da cidade ser ótima e ter muitas atrações, vimos durante o nosso planejamento de viagem que as paisagens mais incríveis ficavam um pouco distantes, sendo o aluguel de um carro a opção mais prática e barata de se chegar a estes locais. Desta forma, resolvemos ir até a Laguna del Inca, um lago formado pelo degelo dos Andes de fácil acesso e com um visual de tirar o fôlego. A opção óbvia seria optarmos pelo Embase El Yeso, mas o acesso ao local foi reaberto recentemente (7 de Janeiro segundo o site Like Chile), e pelo o que apuramos as coisas estavam bem complicadas por lá, com muitas agências levando turistas e com restrições de horário para ida e para a volta pela estrada de lá.

A Laguna del Inca fica próxima a Portillo, uma estação de ski muito procurada no período do inverno. Entretanto, essa região não possui grandes atrativos para a visitação no período do verão, apenas a beleza do lago. Apesar disso, a fronteira com a Argentina fica a apenas 8km do lago, possuindo três outros pontos bem interessantes para se conhecer: o Cristo Redentor de los Andes, um monumento no topo de uma montanha de quase 4 mil metros de altura que simboliza a paz entre Chile e Argentina; o Mirador del Aconcagua, um mirante com vista para a montanha mais alta fora da Ásia; e o Puente del Inca, um povoado com formações rochosas com uma história bem curiosa do período Inca. Estas três atrações possuem acesso exclusivo pelo território Argentino, sendo necessário então atravessarmos a fronteira para chegarmos até elas.

Atravessar a fronteira entre o Chile e a Argentina é algo tão comum que as locadoras de veículos costumam oferecer a permissão de saída do país tão fácil quanto adicionar um condutor extra ao veículo. Este serviço é extremamente caro, principalmente para quem só quer atravessar a fronteira por algumas horas. Para se ter uma ideia, o aluguel do carro para 2 dias custou CLP 46.000 com condutor adicional (algo como R$280,00 com o IOF), e a permissão para até 15 dias fora do Chile custava CLP 90.000 (algo como R$540,00 com IOF). E 15 dias era o período mínimo dessa permissão! Depois desta frustração, encontramos um post realizado no TripAdvisor de um brasileiro que foi até o Cristo Redentor de los Andes com carro alugado e sem pedir essa permissão especial para a locadora. Desta forma, resolvemos fazer essa experiência e ver no que dava.

A estrada no Chile, de uma forma geral, é excelente, apesar dos caríssimos pedágios. Asfalto liso, sinalização muito boa e limite máximo de 120 km/h em boa parte do trajeto. Até a Laguna del Inca, ainda passamos pelo Los Caracoles, um trecho da estrada com 28 curvas que sobem uma montanha e é considerada uma das estradas mais exóticas do mundo. Depois que passamos pela Laguna del Inca e tiramos um monte de fotos, seguimos estrada acima até chegarmos a fronteira. Segundo o post do TripAdvisor, seria necessário passarmos pela aduana chilena para pegarmos um documento de intenção de volta ao Chile. Entretanto, não existe aduana chilena de saída, mas apenas aduana de entrada no Chile, já que o posto de controle argentino possui agentes chilenos para cuidar de toda a burocracia dos dois lados da fronteira. Depois que erramos o caminho e entramos na aduana de entrada no Chile em busca do maldito documento, fomos informados de que esse documento só seria disponibilizado para a gente na Argentina, onde funcionários chilenos cuidariam de todo o trâmite. Seguimos então para a Argentina.

A travessia entre os dois países é realizada através do túnel Cristo Redentor, onde cada metade do túnel é responsabilidade de um dos lados. Desta forma, atravessamos o túnel e chegamos ao território argentino. Para a nossa surpresa não há nenhum controle de quem atravessa o túnel por uns 2 ou 3km após a fronteira da Argentina, quando encontramos uma estrutura que parece ser um pedágio. Na única cabine disponível para o nosso sentido, um agente argentino apenas conta quantas pessoas há dentro do carro, entrega um formulário e um papel com o número de passageiro e te libera sem verificar nada. Falamos que nosso carro era alugado e ele disse que poderíamos ir até o Cristo Redentor de los Andes e ao Mirador del Aconcagua sem problemas, mas que para irmos a Puente del Inca, teríamos que passar pelo controle argentino, que ficava a 15 km de onde nos encontrávamos.

Seguimos então pela estrada, passando em frente à estrada que dá acesso ao Cristo, e a entrada do Parque Provincial Aconcagua, onde fica o mirante. Mais ou menos 15 km depois, vimos um prédio sem muita sinalização do lado esquerdo da estrada. Não havia bloqueios para a frente, mas por sorte conseguimos perceber que era ali que ficava o controle da fronteira de verdade. Entramos numa fila de carros que demorava uma eternidade para andar. Gastamos cerca de 1 hora e meia parados na fila aguardando a nossa vez. Quando fomos atendidos, pediram nossos passaportes e carimbaram a nossa entrada. Achei que já estaríamos liberados, mas a próxima etapa era justamente o controle do carro. Fomos até a guarida da PDI (algo como o Polícia Federal do Chile) e entregamos os documentos. De forma honesta, disse que o carro era alugado e que iríamos apenas até Puente del Inca. O funcionário, de forma muito tranquila, tentou achar um jeito de liberar a nossa passagem, mas o nosso contrato era claro quanto a não permitir a saída do Chile, então a passagem do carro foi negada. Perguntei então se poderíamos ir a pé, mas a permissão de estacionamento naquela área era de responsabilidade argentina. Fomos pedir permissão e de forma quase imediata ouvimos um "No! Vuelve." bem grosseiro do agente (ou um militar) responsável por este setor. Pegamos o nosso carro e seguimos de volta para o Chile. Puente del Inca fica para a próxima!

Alguns quilômetros depois paramos no estacionamento da entrada do Parque Provincial Aconcagua, onde vimos que para seguirmos adiante do parque, era necessário a aquisição do tíquete de entrada. Fomos até a bilheteria e vimos que a entrada custava 300 pesos argentinos, mas só podia ser pago em espécie. Pesos chilenos e cartões não eram aceitos. Tentamos fazer o câmbio com um vendedor muito simpático de uma lanchonete ao lado da bilheteria, mas ele não fazia esse tipo de serviço. Por fim, descobrimos que um dos mirantes do Aconcagua (senão o principal deles) ficava numa trilha de 5 minutos de onde estávamos e que não era necessário pagar nada para irmos até lá. Depois de várias fotos, fomos em direção ao Chile novamente, mas com destino ao Cristo.

A entrada para o Cristo Redentor de los Andes fica a 11 km do Parque Aconcagua, num povoado chamado Las Cuevas. A subida é feita em uma estrada de terra, com muito cascalho, mas não chega a ser impossível de se passar. É necessário ter alguma experiência em estrada de terra e não ter pressa para subir, já que não há nenhuma proteção contra saída da pista. O caminho estava bem plano, parecendo que havia passado uma máquina por lá havia pouco tempo. Pelo o que eu li, o caminho costuma ficar bom entre Novembro e Março, quando é a alta temporada de visitações ao monumento, mas piora drasticamente com a chegada do frio e da neve.

No post do TripAdvidor o autor disse que subiu com um Suzuki Alto, que possui motor 0.8. A subida realmente não é muito íngreme, mas não consigo afirmar se é seguro fazê-la com um carro com tão pouca potência. Eu fiz esse trajeto com 4 pessoas em um Onix 1.4 e não tive problemas. Não demora mais do que 25 minutos a subida, mesmo que devagar. É também uma ótima oportunidade para algumas fotos das montanhas próximas e da estrada mais abaixo.

Após a subida, chegamos finalmente ao Cristo Redentor, uma estátua de 13 metros a 3.832 metros de altura em relação ao nível do mar, inaugurada ali em 1904. Venta MUITO ali, sendo realmente frio mesmo no auge do verão, como foi no caso de nossa visita. Muita gente vai desavisada, com shorts, bermuda e sem casaco, mas não aguenta por muito tempo fora do carro. A diferença de temperatura entre o início da estrada e o topo da montanha é realmente incrível, o que justifica esse despreparo de algumas pessoas. As fotos são incríveis e o ar chega a ser menos denso do que estamos acostumados, principalmente para quem mora no Rio de Janeiro. Eu particularmente não senti muita diferença, mas quem foi comigo ficou mais ofegante. Talvez eu não tenha sentido a diferença por conta do frio cortante, mesmo com os dois casacos que eu estava.

Por fim, voltamos pela mesma estrada que subimos, já que há uma placa informando que a descida pelo lado chileno exige atenção redobrada, além da estrada aparentar estar muito fofa; um belo convite para atolar a mais de 3 mil metros de altitude.

Terminada a descida, seguimos rumo ao Chile, onde voltamos a encontrar o mesmo pedágio que paramos na ida. Entretanto, desta vez era necessário pagar para prosseguir para o Chile e, apesar de barato (30 pesos argentinos), só se aceitava a moeda argentina. Como não tínhamos nenhum peso argentino conosco, fomos instruídos pela operadora do pedágio a fazer o câmbio em um dos restaurantes que havia ao lado do pedágio. Fomos até lá e falamos com o dono, um senhor meio sério, mas solícito. Depois de explicarmos que estávamos querendo passar pelo pedágio, ele nos disse que não fazia o câmbio, mas que vendia os produtos dele e que na hora do troco dava 30 pesos para a gente pagar o pedágio. O câmbio não foi muito vantajoso, obviamente. Acredito que pagamos 20% a mais do que pagaríamos se tivéssemos feito o processo numa casa de câmbio, mas acho que no geral o prejuízo não foi grande. Pagamos o pedágio e seguimos para o túnel, voltando ao Chile.

A alfândega do Chile é bem rigorosa, mas costuma ficar vazia pelo o que eu pude observar. Como chegamos em um carro chileno, acharam que éramos de lá e queriam fazer a limpa no carro em busca de qualquer tentativa de sonegar imposto.  Depois que nos apresentamos como brasileiros, nos atenderam mais tranquilos.

O fato do carro não ter entrado na Argentina, mas seus ocupantes sim (recebemos o carimbo em nossos passaportes) gerou um pouco de confusão no posto chileno. O responsável pelo nosso atendimento não sabia qual o procedimento deveria fazer, já que não tínhamos o papel argentino que dizia que o carro saiu do país, mas oficialmente não estávamos mais no Chile. Depois de algumas consultas a superiores e uns 10 minutos de espera, recebemos nossos carimbos, PDIs e fomos vistoriados em busca de produtos de origem animal ou vegetal não permitidos, sendo liberados para voltarmos para Santiago em seguida.

De forma geral, pude observar que não há problemas em ir até o Cristo Redentor de los Andes ou até mesmo ao Mirador del Aconcagua com carro alugado uma vez que você não atravessa formalmente a fronteira dos países e transita apenas numa área "neutra" em território argentino. Você não quebra nenhuma cláusula do contrato e também não é parado pela polícia para averiguações. Apesar disso, o cuidado na condução do veículo deve ser redobrado, já que o seguro que você contrata na locadora não cobre nenhum sinistro em território argentino, mesmo que seja neutro. Este passeio em si vale a pena pelas paisagens, pela experiência e pelo simbolismo tanto do Aconcagua, quanto do Cristo Redentor de los Andes. Se estiver perto e topar fazer o passeio, creio que você não irá se arrepender.

Boa viagem!